Epitácio Pessoa
O paraibano Epitácio Pessoa foi eleito Presidente do Brasil sem nem saber que estava concorrendo ao cargo. Enquanto participava de uma comitiva em Paris na Conferência da Paz ocorreram as eleições para substituir o presidente que havia falecido, quando retornou foi logo empossado para concluir o restante do mandato.
Epitácio Lindolfo da Silva Pessoa nasceu em Umbuzeiro, na Paraíba. Ficou órfão aos sete anos de idade, seus pais morreram de varíola. Teve uma infância pobre, mas ajudado pela família e conseguiu se formar em Direito na Faculdade de Direito de Recife, tornando-se professor e seguindo para viver no Rio de Janeiro. Favorecido pelo seu parente, João Pessoa, conheceu os grandes nomes da nascente República e entrou para a política exercendo cargos grandiosos. Foi deputado constituinte por Pernambuco em 1890 e anos mais tarde já o importante posto de Ministro da Justiça no governo do presidente Campos Sales, entre 1898 e 1902. No mesmo ano de 1902 é nomeado e passa a ser Ministro do Supremo Tribunal Federal.
No ano de 1919 Epitácio Pessoa é nomeado para representar a delegação brasileira que participaria da Conferência de Paz em Paris, após o término da Primeira Guerra Mundial. Nesta época estava em vigência o mandato de Rodrigues Alves que havia sido eleito para o cargo de presidente em 1918. Todavia, Rodrigues Alves foi uma das vítimas da epidemia de varíola que atingiu o Brasil ainda no governo do presidente Venceslau Brás e acabara não resistindo e falecendo sem desempenhar sua função no governo. Desde então o vice-presidente de Rodrigues Alves, Delfim Moreira, havia assumido o principal posto da política brasileira, mas o processo eleitoral já estava aberto novamente para eleger um novo presidente, já que à época não era permitido na constituição que o vice-presidente assumisse o cargo principal antes de se completar dois anos de mandato. Epitácio Pessoa nem sabia que no Brasil as oligarquias estavam se articulando em torno de seu nome para a presidência. E mesmo sem saber acabou sendo eleito.
Na volta para o Brasil, chegou e recebeu imediatamente das mãos de Delfim Moreira o cargo de presidente, realocando Delfim Moreira em sua posição de vice-presidente do Brasil. Começava então seu governo que iria de julho de 1919 até novembro de 1922, tendo um dos governos mais conturbados da República Velha.
Por ser nordestino, Epitácio Pessoa tentou favorecer o desenvolvimento de sua região, realizando obras de infra-estrutura construindo açude e rodovias para dar acesso ao sertão nordestino.
Vendo que a cada gestão presidencial o Brasil adquiria mais dívidas, o presidente Epitácio Pessoa tentou implementar uma política de controle de gastos, mas não obteve sucesso. Tendo que atender aos interesses dos cafeicultores, precisou tomar mais empréstimos para garantir a política de retenção do café e manter o preço do produto elevado no mercado mundial.
No último ano de seu mandato, 1922, enfrentou ainda uma revolta tenentista no Forte de Copacabana, no dia 5 de julho. Os militares queriam derrubar o presidente para impedir que indicasse Artur Bernardes para sua sucessão. Seus últimos anos no governos foram conturbados por causa da indicação do sucessor, Minas Gerais e São Paulo chegaram a um acordo em torno do nome de Artur Bernardes, mas Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco queriam Nilo Peçanha. Foi um novo momento de crise entre as elites oligárquicas que dominavam a política brasileira.
O movimento de Copacabana só serviu para colocar os tenentes na cena política brasileira, pois a revolta foi encerrada com a morte de dezesseis oficiais e Artur Bernardes foi mesmo eleito.
As insatisfações demonstravam o início da ruína do sistema oligárquico e apontava para uma nascente mudança política.
Após deixar a presidência, Epitácio Pessoa sofreu de mal de Parkinson e se afastou da vida pública depois da Revolução de 30, falecendo no dia 13 de fevereiro de 1942, aos 77 anos de idade, numa fazenda próxima de Petrópolis.
Governo de Epitácio Pessoa:.
Após o breve mandato de Delfim Moreira, Epitácio Lindolfo da Silva Pessoa assume a presidência em 28 de julho de 1919. Até então, a República brasileira sempre fora composta por mandatários paulistanos ou mineiros, o que caracterizava a política do “café-com-leite”, pois eles representavam a oligarquia da cafeicultura do país. Entretanto, a oligarquia preferia eleger o paraibano Epitácio Pessoa no cargo da presidência do que seu rival na disputa Rui Barbosa, um intelectual baiano que tinha orgulho de sua terra natal.
Epitácio Pessoa esteve a frente do país em um complicado momento de agitação dos trabalhadores. Por volta de 1920, os imigrantes europeus, principalmente espanhóis e italianos, ocupavam cargos do operariado e chegavam com a influência política de seus países de origem, como o anarquismo e o socialismo. Revoltados com as más condições de trabalho e baixos salários mantidos pela elite oligárquica, os trabalhadores lideraram greves generalizadas em frente das indústrias, distribuindo panfletos e jornais de circulação alternativa para propagar os ideais de esquerda que estavam se fortalecendo na época.
A oligarquia, preocupada com o baixo rendimento de suas indústrias, pressionou o governo a promulgar a Lei de Repressão ao Anarquismo, em 1921, para tentar acabar com o elevado número de greves nas fábricas. A ascensão da indústria após o fim da Primeira Guerra Mundial era o fator determinante para que Epitácio Pessoa defendesse uma política de contenção de gastos e não aprovasse um projeto que aumentasse os salários do operariado.
Divididos entre anarquistas e socialistas, alguns trabalhadores decidiram que estava na hora de formar uma resistência política que defendesse os ideais esquerdistas. Em 1922, fundaram o Partido Comunista Brasileiro (PCB), que logo foi posto na ilegalidade por Epitácio Pessoa por representar uma onda de dissidência no proletariado, interferindo largamente nos interesses oligárquicos.
Com toda a agitação tomando conta das vias urbanas, durante o governo de Epitácio Pessoa aconteceu a Semana de Arte Moderna, em abril de1922, liderada por um grupo de intelectuais no Teatro Municipal de São Paulo. O evento representou uma renovação artística no campo da vanguarda, contestando a produção da arte daquele conturbado momento. Tomaram frente deste
movimento intelectuais como Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira.
Ainda em 1922, Epitácio Pessoa teria uma grande dor de cabeça com a Revolta do Forte de Copacabana, liderada por tenentes e capitães do Exército que estavam insatisfeitos com o presidente após o fechamento do Clube Militar e a prisão do dirigente Hermes da Fonseca. Depois de um violento confronto, restaram 17 tenentes e um civil, lembrados como “Os 18 do Forte”.
Apesar do período conturbado, Epitácio Pessoa marcou seu governo com um grande investimento no sertão nordestino: ele mandou construir mais de 200 açudes na região e 500 quilômetros de vias férreas, para tentar acabar com o forte impacto da seca. Também participou da criação da Universidade do Rio de Janeiro e da inauguração da primeira estação de rádio do país.
Em 15 de novembro de 1922, o mineiro Artur Bernardes assume a presidência, dando continuidade a política “café-com-leite” da elite cafeicultora, que durante o mandato de Epitácio Pessoa não deixou de exercer sua forte influência política.
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